Os receptores quebram códigos das empresas de TV por assinatura. Empresas tentam combater as fraudes
O publicitário André Soares (nome fictício) estava louco para fazer um upgrade no seu plano da Net
e agregar mais canais à sua televisão. Então, uma amiga lhe contou
sobre um aparelinho "revolucionário" que abria todos os canais de uma TV
por assinatura como num passe de mágica. André pesquisou, fez algumas
contas e descobriu que, ao adquirir o tal decodificador, faria uma
enorme economia. "O preço da TV
por assinatura no Brasil ainda é muito alto. Tentei fechar um pacote
maior, mas não foi possível. A assinatura ficaria em quase R$ 500
mensais", conta.
O tal aparelhinho "mágico" custa de R$ 300 a R$ 700 no Brasil e consegue
decodificar todos os canais de TVs por assinatura. O usuário paga pelo
pacote mínimo da companhia apenas para ter o sinal em sua casa, pluga o
receptor no lugar do decodificador da TV
por assinatura e tem todos os canais. O problema é que o decodificador é
totalmente ilegal, pois consegue quebrar os sinais codificados das
empresas. Na prática, trata-se de pirataria do sinal, já que o
consumidor tem acesso a canais sem pagar por eles.
Em maio deste ano, a Anatel passou a exigir que os receptores capazes de
exibir sinal criptografado somente sejam comercializados mediante
certificação emitida pela própria Anatel. Portanto, qualquer receptor
que não tenha tal certificação está em desacordo com as normas da
agência reguladora. Logo, a aquisição de tal equipamento pode configurar
crime.
De acordo com a Net, os envolvidos - tanto quem oferece a instalação
ilegal quanto quem "contrata" - estão sujeitos a penalidades previstas
em lei. Comprovada culpa após autuação, a pena pode variar de 1 a 4
anos de reclusão e multa. Em outras palavras, André pode ir em cana por
conta desse aparelhinho mágico. "Eu não tenho muito medo, porque a única
forma de descobrirem o aparelho é entrando na minha casa. Mas, eu tomo
precauções", conta. "Quando a equipe da Net vai em casa, eu substituo o receptor ilegal pelo original da companhia".
Além do crime, existe um outro lado na pirataria. Tanto a Net
quanto a Sky acreditam que a prática é prejudicial não só para o setor
como para a sociedade, pois acaba com a concorrência saudável, reduz a
arrecadação do governo e incentiva o cliente a uma prática
criminosa. Segundo Antonio Salles, diretor da SETA (Sindicato Nacional
das Empresas Operadoras de Sistemas de Televisão por Assinatura), a
pirataria também pode acabar com os empregos gerados pela indústria da
televisão por assinatura. Fora isso, os preços dos pacotes não
conseguirão baixar com a pirataria. Com essa prática, as companhias não
têm possibilidade de aumentar sua escala econômica e oferecer aos
consumidores mais opções de pacotes e menores preços.
Como o set top box funciona?
O aparelho capta o sinal do satélite ou cabo e, conectado à web, é capaz
de quebrar a criptografia da rede, chegando a captar mais de 300 canais
fechados. André comenta, no entanto, que os canais em HD são os únicos
que não conseguem ser decodificados, portanto, somente os analógicos são
exibidos para ele. "Eu descobri que isso depende de cada empresa. Na Net
os canais em HD devem ser mais protegidos e o aparelho não consegue
decodificá-los. Já ouvi dizer que em outras companhias até os digitais
são exibidos".
As empresas trabalham ativamente no reforço da
segurança para não dar espaço às atividades que alimentam uma rede
criminosa. Mas, mesmo assim, existem comunidades na internet com pessoas
dispostas a burlar as criptografias. Ou seja, mesmo os canais em HD,
podem, em algum momento, ter quebrada sua codificação.
Apesar de ser super fácil adquirir um aparelho que desbloqueia os canais
fechados, é bastante difícil configurá-lo. Por isso, o publicitário foi
obrigado a chamar um técnico e pagar R$ 150 pela configuração. Achar um
especialista neste tipo de serviço não foi problema, segundo André. Ele
conta que muitas pessoas indicaram técnicos capazes de instalar o
aparelho. "O aparelho está ficando muito popular no Brasil. Muita gente
que eu conheço tem".
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